Chevrolet C-1416, Veraneio
Advertência: essas fotos podem provocar frio na espinha, dor no estômago e outros sintomas de ansiedade. É, nem só boas lembranças traz a visão de uma Veraneio. O utilitário da GM ficou estigmatizado pelo período autoritário vivido no Brasil após o golpe de 1964. A Veraneio era o veículo preferido pela polícia e pelos órgãos de repressão. Além dos camburões das polícias Militar e Civil devidamente pintados com as cores das corporações, eram comuns as Veraneio "chapa-fria", todas modelo básico. Sua origem remonta ao final de 1959, quando a General Motors lançou a Amazona. Derivada da picape Chevrolet Brasil, tinha três portas (duas do lado direito). Com bancos para oito passageiros, teve grande aceitação como perua escolar.
No Salão do Automóvel de 1964, junto com a picape redesenhada, foi apresentada a C-1416 (o nome Chevrolet Veraneio só seria adotado quase cinco anos depois do lançamento). Se na parte mecânica não havia grandes avanços, seu desenho era moderno, com linhas retas e quatro portas. Basicamente, o motor era o mesmo da Amazona, mas a suspensão, privilegiando o conforto, passou a usar molas helicoidais e já era independente na frente. Um ano e meio depois do lançamento, o texto de QUATRO RODAS (março de 1966) afirmava que sua identidade "parece código de filme policial". Mas rasgava elogios ao seu comportamento. Com quase duas toneladas e motor de 142 cavalos, a C-1416 chegou aos 145 km/h e fez de 0 a 100 km/h em 20,7 segundos, marca considerada "formidável" pela revista. Em compensação, não era fácil sustentá-la: percorria de 3,8 a 4,8 quilômetros com 1 litro de gasolina no trânsito urbano e na estrada não passava dos 5,5 km/l.
Ao dirigir a Veraneio (na verdade uma C-1416, modelo 1968), a primeira idéia que ocorre é: como era possível efetuar perseguições num carro desses? O confiável motor de seis cilindros é nervoso como uma rena de trenó. A suspensão é mole e o carro inclina só de pensar na curva. E a traseira tinha fama de "varrer" as ruas em entradas mais fortes. Mas nada se compara à direção. Uma mudança rápida de trajetória demanda preparo quase olímpico. O razoável número de braçadas (são mais de seis voltas de batente a batente) deve ser executado com a agilidade de lançador de dardos. Feita a manobra, basta soltar o volante que a direção gira rapidamente e os 5,16 metros de comprimento por quase 2 de largura do carro retomam o prumo.
O acionamento do câmbio, apesar de uma precisão e suavidade de causar inveja a muitos utilitários de hoje, não tem pressa: a alavanca na coluna percorre um longo caminho para trocar as três marchas para a frente. Mas para um passeio tranqüilo com a família e toda sua bagagem ela era boa demais, um passo à frente quando comparada à Rural, concorrente fabricada pela Willys.
A Veraneio, na sua versão original, sobreviveu até o final da década de 80. Atravessou praticamente um quarto de século sem grandes alterações de estilo. Na mecânica, além de ligeiros aumentos na potência do motor, foram incorporados ao longo dos anos progressos como servofreio, freios a disco e direção hidráulica. Em 1989, o último exemplar deixou a linha da fábrica, em São Caetano do Sul, SP. Sua sucessora acompanhava as mudanças na linha de picapes, totalmente reformulada. Pouco tempo depois o mercado brasileiro se abriria para a chegada de modernos utilitários esportivos, que exilaram de vez a antiga Veraneio.
Chevrolet Veraneio
Por exigência legal, que restringe o uso do diesel ao transporte coletivo ou de carga, a Veraneio foi inicialmente fabricada a álcool ou a gasolina, e passou a contar com a opção do diesel, quando a lei foi alterada no governo Collor.
Testamos a nova Veraneio inteiramente equipada, com todos os acessórios disponíveis. Assim, é claro, ela é bem mais confortável que uma picape. Mas, do motorista habituado a carros, ela exige novos condicionamentos.
A primeira sensação estranha é de altura. Numa posição bem mais alta que a dos motoristas dos carros comuns, enxerga-se mais para a frente e para os lados. Isso dá mais segurança e também é possível prever mais facilmente problemas que surjam no fluxo do trânsito. Mas, como o veículo é grande e pesado — 2.184 kg —, exige certos cuidados, pois não pode ser tão ágil como os carros comuns.
De qualquer modo, com mais de duas toneladas de peso e um grande volume, em nosso teste esta Veraneio a gasolina chegou aos 141,9 km/h e fez de 0 a 100 km/h em 21,37 segundos — mantendo o desempenho da última A-20 cabine dupla que testamos (QR 310), e que era a álcool. Também foi econômica — para um veículo de seu porte, claro: na estrada, vazia, fez 6,02 km/l de gasolina a 100 km/h e 5,33 km/l com o peso total de 870 kg especificado pela fábrica. Na cidade fez 4,41 km/l.
O desempenho razoável não deve estimular excessos: não se pode dirigir a Veraneio como um carro. Ainda assim, pode-se dizer que é um veículo seguro, por vários motivos:
• A estabilidade não é notável, mas surpreende. Mesmo totalmente carregada, ela se comporta bem. A Veraneio anterior usava molas espirais na suspensão traseira, enquanto nesta as molas são semi-helípticas, o que melhorou seu comportamento em estradas ruins — mesmo enfrentando buracos sucessivos, ela não tende a pular.
• A direção — hidráulica, felizmente — é bastante suave. Só que, devido a uma pequena folga que é própria de sua concepção, exige pequenas correções constantes em pisos irregulares — o que é feito com mínimo esforço.
• Os freios são muito bons. Apesar da grande altura do veículo (1,80 m), ele não se desequilibra nas frenagens: pára sem desvios. E os espaços de frenagem chegam a ser menores que os de muitos carros testados, inclusive os da linha Opala, que usam o mesmo motor de 4,1 litros.
O motor, aliás, leva muito bem o veículo, com seu grande torque. É ajudado nisso por um câmbio de quatro marchas com boas relações — um pouquinho duro, é verdade, conseqüência provável da própria robustez do conjunto.
Dentro, há espaço de sobra para seis pessoas. E, brevemente, a fábrica pretende lançar uma versão com mais uma fileira de bancos, que poderá levar 9 pessoas mais carga. Só o banco do motorista é separado e tem regulagens de posição. O traseiro é bipartido. E faltam os apoios para cabeça. O acesso é fácil, pelas quatro amplas portas, mas seria bom que houvesse trava central — devido ao tamanho do veículo, dá trabalho travá-las todas. Aliás, quando se batem as portas dianteiras, os retrovisores mudam de lugar e precisam ser regulados de novo: melhor que fossem bem fixados.
À frente do motorista, nesta versão Custom S (a mais simples), um painel com vários marcadores vazios: tem apenas velocímetro, hodômetro total, e marcadores de temperatura e nível de combustível. Há espaço de sobra para um precioso conta-giros, além de manômetro de óleo, baterímetro e vacuômetro. No lugar do conta-giros, há um enorme marcador de combustível, do tamanho do velocímetro, tapando o buraco. Além disso, os comandos do limpador e do vidro térmico traseiro não são iluminados, o que dificulta sua localização à noite.
Apesar disso, viaja-se bem na Veraneio. A visibilidade é facilitada pelos enormes vidros laterais traseiros, sem emendas. Apenas à frente, a altura do capô prejudica um pouco. Para trás, os grandes retrovisores ajudam bem. O nível de ruído, para o tipo de veículo, até que não foi alto.
E, finalmente, a Veraneio premia seus usuários com o que é sua própria razão de ser: um enorme espaço para carga. Medido pelo nosso sistema, ele comporta 1.240 litros até a altura do vidro ou 2.392 até o teto. Seu uso é facilitado pela porta traseira, que, contudo, é bem pesada. Alguns prefeririam ter duas portas, abrindo para os lados. No geral, contudo, acredita-se que os fãs da Veraneio não se incomodem de fazer um pouco de força.
Chevrolet Veraneio
Três versões
A nova Veraneio tem três versões: S, Luxo e Superluxo. todas com opção de motor a gasolina ou a álcool (neste caso, com desempenho um pouco melhor). A diferença entre as três são os acessórios, sendo que apenas a Superluxo — ainda não disponível no mercado — poderá vir teto de vinil opcional.Testamos uma S que, contudo, equivaíe a um modelo de topo, pois foi equipada com rodas e pneus especiais (mais largos), vidros verdes, desembaçador, direção hidráulica, diferencial positraction (com efeito autoblocante para evitar atolagens), limpador traseiro e retrovisores especiais. Com tudo isso, seu preço em meados de março de 1989 era de NCz$ 40.117 (contra NCz$ 35.783 do modelo básico). A Veraneio é fornecida nas cores branco, vermelho, marrom, azul e bege claro.
O primeiro "carro" da GM
A Veraneio é um dos veículos mais antigos de nossa indústria. Sua origem está na picape C-14, lançada em 1957 — e, na verdade, o primeiro veículo GM fabricado no Brasil que não era exatamente um caminhão. Já na época, era a Brasinca que produzia a carroceria para a GM. Dessa picape derivou uma outra picape, cabine dupla, a C-14 Amazonas. Ambas circulavam em meio aos Aero-Willvs, DKW, Kombi e Fuscas de uma época de poucas estradas — e bem piores que as de hoje.Com o nome Veraneio, e baseada na mesma picape C-14, a perua foi lançada em 1964. Vinha equipada com o mesmo motor da C-14, um seis-cilindros herdado do caminhão Chevrolet Brasil.
De lá para cá, além de ficar célebre como carro de polícia, muito usado também pelos órgãos da repressão política — aliás, seus anos de maior venda coincidem com o pior período do AI-5 —, a Veraneio permaneceu com as mesmas formas clássicas das picapes encarroçadas americanas. Mas teve várias mudanças, algumas infelizes, na motorização.
Em 1976, por exemplo, autoridades policiais pediram que a GM colocasse nela o motor 2.500 do Opala de quatro cilindros. Não deu certo: os camburões rodavam quase sempre cheios e seu desempenho, com excesso de peso, era muito ruim. Em 1979 foi colocada a versão a álcool desse motor 2.500, com mais torque e potência, mas o desempenho continuou insatisfatório. Uma versão modernizada do velho motor de seis cilindros a gasolina, adotada em 78, funcionou melhor.
Finalmente, em 81, a Veraneio passou a usar o motor do Opala de seis cilindros. É o que continua até hoje. E a situação se inverte agora: mesmo motor, aspecto diferente. Nesta remodelação a GM gastou 10 milhões de dólares. E espera vender 2.000 unidades por ano dessa Veraneio, juntamente com sua versão menor — a Bonanza, que só tem duas portas e foi mostrada no Salão do Automóvel.
Em 1964, era apresentada sua sucessora, a C-1416, baseada na picape C-14. Seu desenho era mais atual, com quatro faróis redondos, quatro portas laterais, amplo espaço interno, suspensão independente na dianteira e câmbio sincronizado.
Anos depois, ganharia o nome de Veraneio, em alusão ao uso em lazer, mas entrou para história como o temido camburão da polícia.
O mesmo modelo foi produzido até o final da década de 1980, com ligeiras alterações de estilo (adoção de apenas dois faróis redondos), e mecânica (uso de motores 6 cilindros do Opala e diesel do D-10). Em 1990, era lançada uma nova Veraneio, agora não mais um automóvel original, mas uma picape D-20 transformada pela Brasinca.
MOTORIZAÇÃO | |||
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Motor: | 4.3, 6 cilindros em linha, 12 válvulas (2 por cilindro), carburador de corpo simples, gasolina | ||
Cilindrada: | 4.278 cm³ | Potência: | 149 cv a 3.800 rpm |
Potência Específica: | 34,6 cv/litro | Torque: | 32 kgfm a 2.400 rpm |
CARROCERIA | |||
Comprimento: | 5.162 mm | Peso: | 2.000 kg |
Largura: | 1.976 mm | Porta-Malas: | Não disponível |
Altura: | 1.730 mm | Tração: | Traseira |
Freios: | Tambores nas quatro rodas | Câmbio: | Manual de 3 marchas |
DESEMPENHO | |||
Velocidade Máxima: | 144 km/h | Aceleração: | 18,3 segundos |
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